sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Conto - o vira lata e o psicopata

Publico aqui um conto de minha autoria.
Sou um escritor amador, então perdoem eventual falha na forma.

O vira lata e o psicopata


Ele estava decidido. Iria fazer, após um bom tempo planejando como fazer e tomando coragem, ele conseguiu.


Sentia-se preparado para o que estava por vir.

Seus colegas do trabalho finalmente iriam pagar por todas as piadas, deboches e brincadeiras que faziam com ele.

Seu plano, era como ele mesmo dizia “Perfeito”, não tinha como dar errado.

Mas ainda era necessário uma prova final, afinal, ele nunca tinha matado ninguém antes, e era preciso treinar, para ver se ele era realmente, capaz.

Pensou em como poderia ser o teste.. Ele teria que ganhar a confiança da criatura, e então, usar essa confiança contra ela, e a matar, e a olhar morrendo, sem sentir remorso.

Frieza, desprovimento total de sentimentos, assim que tinha que ser.

Após pensar nessa parte, decidiu que estava na hora de pôr a primeira parte do plano.

Saiu na rua, analisando tudo e todos, procurando o que poderia servir.

Pensou em pegar alguém solitário e excluído como ele, do tipo “que ninguém irá sentir falta”, mas ganhar a confiança de alguém assim demoraria muito tempo, e ele não estava mais com paciência de esperar.

Olhou alguns mendigos, e pensou em usar algum deles, mas ele teria que ter contato com ele, e isso o fez descartar a idéia.

Quando ele estava nervoso, por não estar conseguindo resolver esse problema, ele parou para comer.

Como não queria ficar perto das pessoas, pediu para levar e foi comer na praça.

Estava comendo e pensando no que poderia fazer, sem nenhuma boa idéia de como resolver esse impasse.

Quando estava terminando de comer, veio perto dele um vira lata, sacudindo o rabo e balançando o corpo.

Ele se sentiu incomodado com aquele cachorro, que vinha para mendigar sua comida.

Mas, olhando para o cachorro, ele teve uma ótima idéia, ele ia usar aquele cachorro como teste!

Era um vira lata, ninguém ia sentir falta dele, e como se tratava de um cachorro de rua, seria fácil ganhar a confiança dele.

Ele deu o resto de sua comida para o cachorro e ficou passando a mão nele, o acariciando como que acaricia um prêmio.

O vira lata se jogou no chão e mostrou sua barriga, pedindo por carinho, ele, vendo aquela cena, ficou feliz, o plano estava indo mais rápido do que ele imaginava, já estava ganhando a confiança do vira lata.

Decidiu que ia o levar para casa, o alimentar, o banhar, e ganhar mais de sua confiança, fazer o cachorro acreditar que ele tinha carinho por ele, e quando fosse a hora certa, o envenenar e o ver agonizando, sem remorso de ter matado o “melhor amigo do homem”.

- Se eu conseguir fazer isso com ele, consigo fazer com aqueles pulhas do trabalho.

Foi embora para sua casa, com seu novo companheiro, feliz por ter encontrado o que procurava.

Conforme o plano, ele alimentou o vira lata, deu banho, o cuidou, e até brincava e fazia carinho nele – tudo para ganhar sua confiança- conforme ele dizia a si mesmo.

Dois meses haviam se passado e ele havia esquecido da segunda parte do plano, de envenenar o vira lata, na verdade ele havia esquecido até dos seus odiosos colegas de trabalho.

Ele sentia que algo estava diferente, e que isso o incomodava, ele estava demorando muito, e devia pôr o plano em prática imediatamente, antes que fosse tarde.

Pois bem, ele comprou os itens necessários para a fabricação de um veneno caseiro e fez sua fórmula mágica.

Preparou um excelente jantar, para ele e para seu “amigo”, e pôs o veneno na porção do vira lata.

Após ele comer sua parte, levou a tigela para a sala, onde o cachorro balançava o rabo e latia de felicidade, em ver seu dono trazer sua comida.

Ele olhou aquela cena e paralizou, por um instante ficou sem saber o que fazer, de alguma forma, aquele vira lata estava mexendo com ele.

Mas ele parou, respirou e entregou a comida para seu vira lata.

Após entregar a comida, ele foi para seu quarto, aguardar o resultado, ir até a sala ver o cadáver, rir, ir para sua cama e ter uma bela noite de sono.

Ele começou a ficar nervoso, pois nada acontecia, ficava se perguntando se tinha feito a fórmula certa, se iria fazer efeito.

Então a agonia começou.. o cachorro começou a latir, desesperado, sentindo que sua vida se ia, e que em seu lugar, entrava a dor, muita dor.

O cachorro uivava, passava as unhas no chão, como se estivesse chamando seu dono, para o ajudar.

Ele começou a se retorcer na cama, começou a ficar angustiado, estava inquieto, não sabia o que sentia e nem o que fazer.

Se levantou e começou a caminhar pelo quarto, sem saber como lidar com aquela situação – estava diferente de como ele imaginava.

Colocava as mãos na cabeça, batia nas paredes, até que decidiu ir onde estava seu vira lata, chegando na sala, ele viu o cachorro, se retorcendo de dor, em agonia, desesperado.

Ele viu aquela situação, mas ainda assim não sabia o que fazer.

Então o cachorro o olhou, e no seu olhar ele viu “me ajude”.

Ele bateu com raiva na parede, pegou o cachorro do chão e saiu correndo com ele até um veterinário, chegou na emergência e implorou por atendimento, disse que havia envenenado seu cachorro e ele queria que ele vivesse.

A moça que o atendeu levou o cachorro até uma sala, onde estava o veterinário de plantão, e pediu que ele aguardasse na sala de espera.

Ele aguardou na sala, nervoso, comeu todas suas unhas, mordeu seus dedos, bateu no sofá e ficou com um sentimento que ele não conhecia – culpa.

Sentia-se muito mal com tudo aquilo, e queria que seu cachorro sobrevivesse.

Aqueles minutos pareceram meses, tamanha era sua angústia.

Até que a moça que o atendeu chegou na sala de espera, e foi em direção a ele.

Coração disparando, suor, inquietação, ele estava muito nervoso e queria uma resposta.

Então a mulher pediu que ele entrasse na sala do veterinário, que o doutor queria falar com ele.

Ele sentiu suas pernas tremerem e esperou pelo pior, uma grande tristeza tomou conta dele e ele adentrou a sala, cabisbaixo.

Quando ele entrou na sala, viu o médico veterinário com seu cachorro no colo, e ele estava vivo, o médico havia conseguido tirar o veneno, disse que ele trouxe seu amigo a tempo, que isso havia o salvado, que ele havia salvado seu amigo.

Ele explodiu de alegria, ficou eufórico, agradeceu o médico várias vezes.

Então ele pegou seu amigo no colo, e ele latia, balançava o rabo e o olhava com um olhar de “muito obrigado”.

Ele começou a chorar, e levou seu cachorro para casa, após pegar a receita que o veterinário o passou.

Chegando em casa, ele abraçou o cachorro e disse a ele:

- “Obrigado, hoje eu descobri o que é o amor, obrigado por salvar minha vida da infelicidade, meu amigo”

Levou seu amigo para sua cama e dormiu abraçado nele, com um sentimento de felicidade, por ele estar vivo e bem.

Ele não encontrou o que procurava, mas encontrou o que precisava.

Quanto a seus colegas de trabalho? Ele não ligava mais para eles, pois ele tinha algo maior e melhor para se preocupar, finalmente ele tinha vida.



Tiago Aquines

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